A voz é uma característica humana intimamente relacionada com a necessidade do homem se agrupar e comunicar. Ela é produto da sua evolução, um trabalho em conjunto que muito se tem transformado ao longo dos tempos, sobretudo nesta Era da Informação e da Comunicação.
Dar voz a quem poderá estar marginalizado, fazendo-lhe chegar a informação de que todos carecemos para a prática duma cidadania activa, esclarecida e consciente é uma responsabilidade que cabe a todos nós. Estar atento às maiores necessidades e ouvir a Voz e apelos dessas pessoas, que por motivos vários vão sendo segregadas e afastados dos centros de decisão, é outra tarefa que tem que fazer parte do processo de construção de uma cidadania activa, consciente e esclarecida em relação aos grandes desafios globais. Só assim se conseguirá intervir na mudança, ajudando a criar um futuro desejado e equilibrado para todos.
É fundamental a criação de "espaços voz" junto das populações mais desprotegidas que poderão vir a ser agentes de mudança. Esses sectores da população devem ser envolvidos em todos os assuntos que os afectam, como um elo de ligação com as entidades locais e nacionais reforçando assim a sua participação activa na defesa dos seus direitos. Esta é uma das alternativas que se impõe nestes momentos conturbados.
Esses sectores da população devem ser incentivados a prestarem toda a atenção à informação global e local, de forma a fortalecerem os seus conhecimentos sobre os seus direitos e qual o papel que devem desempenhar na participação das várias actividades sociais e políticas.
Como um dos exemplos destas iniciativas temos o caso de Angola que criou o “Espaço de voz da Criança”, com debates e vários estudos apresentados onde participaram membros do executivo local, directores de escolas, coordenadores infantis, representantes da sociedade civil, instituições religiosas e crianças organizadas, tudo isto para se ouvir a voz de quem mais necessita. Como este exemplo já há muitos outros que podem ser seguidos e até melhorados para dar voz a quem mais está desprotegido e afastado.
Com o crescimento galopante das Novas tecnologias de informação e comunicação, o direito ao acesso à informação, a sua permuta e a liberdade de expressão adquiriram (felizmente) novas dimensões. As NTI e nomeadamente as redes sociais desempenham, agora, um papel fundamental na construção das vozes dos grupos socialmente mais desfavorecidos, reforçando o seu direito à informação e globalmente à cidadania.
À recessão que se verifica actualmente vem juntar-se a pressão exercida sobre numerosos países, pelos elevados preços dos produtos alimentares e energia, que lançaram na pobreza extrema (entre 2005 e 2008) mais de 200 milhões de pessoas. Sabemos no entanto, através de um novo relatório do Banco Mundial, que houve uma ampla redução da pobreza extrema no mundo, concluindo que esta grande recessão global não aumentou a pobreza nos países em desenvolvimento, o que é uma boa notícia (os índices de pobreza no mundo estão a cair).
Torna-se pois necessário criar um processo que reflicta as realidades do século XXI e que continue na senda do que se tem vindo a verificar dando Voz a quem mais necessita. Este sistema que se está a criar através destas Novas Tecnologias, não só deve ajudar a melhorar as condições de vida dos mais pobres e vulneráveis, mas também assegurar que as suas vozes sejam ouvidas nos lugares onde as decisões são tomadas.
Simultaneamente é fundamental liderar e incentivar acções como esta (entre outras) em que a ACEP agora está empenhada , que visam dar apoio aos mais desfavorecidos confrontados com a grave recessão económica que agora se vive, concebendo e implementando abordagens inovadoras e de qualidade que possam identificar e desenvolver oportunidades para a mudança.
A pobreza e a marginalidade social em que vivem vários sectores da sociedade lesam a liberdade de expressão, sempre que a sua opinião e participação são ignoradas e colocadas fora de qualquer debate. A pobreza pode levar a violações gravíssimas dos direitos humanos e por isso devem ser criadas condições que permitam a cada pessoa, gozar os seus direitos económicos, sociais e culturais, bem como os direitos civis e políticos que lhes são devidos. Só assim se poderá realizar o ideal do ser humano livre isento do temor e da miséria, capaz de assegurar a sua liberdade pessoal e direito a uma boa, ou pelo menos razoável, qualidade de vida, requisitos fundamentais para uma vida digna e humana.
Tudo isto se consegue fazendo chegar as vozes e necessidades mais sentidas das populações com maiores dificuldades aos responsáveis que poderão dar o seu contributo para resolução destes casos.
Existe ainda uma escassa participação activa dos mais pobres, sendo-lhes dificultado o acesso à informação e a capacidade de influenciar as decisões que afectam as suas vidas do dia-a-dia, encontrando-se, por isso, privados do seu direito de participação na vida do país e nas decisões que poderiam melhorar o seu nível de vida.
O exercício da liberdade de expressão, sem a discriminação provocada pela origem social ou posição económica, será fundamental para diminuir o risco da pobreza absoluta com todas as desgraças e prejuízos, para todos, que daí advém.
Sabemos que a falta de participação impede o desenvolvimento aberto de sociedades livres e capazes, agravando a intolerância e a discriminação. A inclusão de todos os sectores da sociedade nos processos de comunicação, decisão e desenvolvimento é fundamental para que suas necessidades, opiniões e interesses sejam contemplados nas de decisões tomadas.
É justamente através de uma participação activa e ordeira de toda a sociedade nas instituições do país, que o exercício da liberdade de expressão se manifesta permitindo melhorar a condição dos mais marginalizados e desprotegidos.
Neste sentido, o respeito da liberdade de expressão, dando voz a quem mais necessita, é uma ferramenta fundamental para integrar quem, por razões de pobreza, é excluído tanto da informação, como das decisões. A igualdade de oportunidades a todas as pessoas para receber, buscar e solicitar informação deve ser garantida por todo e qualquer meio de comunicação, sem discriminação.
O direito e garantia de uma voz informada para qualquer pessoa são condições indispensáveis para a subsistência da igualdade e do bem-estar de todos. Além disso, uma opinião pública esclarecida e interventiva, em relação aos desafios da época actual, são os motores em que temos que apostar para que haja possibilidades de mudança.
É nesta perspectiva de informação para todos, na tentativa de construção de uma cidadania activa e de uma opinião pública esclarecida, que apostamos.