“LI-A NA INTERNET!”
Na Internet?
Quem a terá publicado lá?
Quem a terá divulgado na rede?
Não conseguia acreditar.
Sim, tinha sido eu a escrever aquela história.
Passei dias, semanas, meses a pesquisar nos arquivos, a entrevistar os que tinham vivido o clamoroso epílogo daquela história tão dramática.
Tinha conseguido resgatar imensos recortes de jornal. Em mau estado. Alguém me tinha passado um velho VHS com uma reportagem televisiva. Tinha voltado a percorrer todos aqueles lugares. Tinha seguido a história.
Era um trabalho que queria apresentar num concurso de escrita para migrantes. Pediam uma história original. Uma história de vida. Algo que tivesse realmente acontecido. Algo que tivesse influenciado de maneira drástica a história da imigração em Itália.
Tinha decidido escrever a história de Jerry Masslo.
Tinha ouvido falar muito dele. Para mim era a História.
Não ganhei o concurso.
Mas recebi os parabéns do júri.
Aquela história era muito importante para mim.
Ninguém a tinha escrito ainda de forma exaustiva.
Se havia algo sobre esta história na internet, então, só podia ser o meu texto.
Os direitos de autor eram meus. Pelo menos podia reivindicar isso, ou não?
Nenhum site podia publicá-la sem a minha autorização.
Tinha que verificar.
Fui a correr para o internet point.
Ia lá poucas vezes.
O processo de autenticação dos utentes incomodava-me.
Mas a lei mandava assim. Um espasmo do 11 de Setembro de 2001.
A curiosidade era grande e fui ver onde tinham publicado o meu trabalho. Teclei “Jerry Masslo” no motor de pesquisa, seguido do meu nome.
E encontrei a história que tinha escrito.
Grandes excertos.
Na barra de endereço havia um nome estranho: Wikipedia.
Nunca tinha ouvido aquela palavra até àquele momento. Tentei perceber mais. Apresentava-se como uma enciclopédia livre. Todos podiam interagir. Passiva e activamente. Fiquei surpreendido. Percebi que não podia pedir nada pelos direitos de autor. O meu nome constava na bibliografia. Com o título do meu trabalho e tudo.
A minha raiva transformou-se então em felicidade: o meu nome era citado na maior enciclopédia de todos os tempos. Não que o meu trabalho fosse grande coisa.
Mas alguém o tinha lido.
E o tinha publicado online.
Para fazer dele um património de todos.
Sentia-me satisfeito.
Eu não era Diderot.
Nem D’Alembert.
Não estava destinado ao Panteão.
Mas na grande enciclopédia universal – Wikipedia – havia a minha minúscula pegada.
Uau!