A capacidade para inovar é um dos traços primordiais da natureza humana, fundada no seu impulso criador, na necessidade de resolução de problemas e de contornar os obstáculos que caracteriza o homem. É impossível separar a inovação da história da humanidade, desde a sua origem. Com efeito, a inovação tem acompanhado e marcado de forma decisiva a evolução do homem e do seu viver em sociedade.
Apesar do papel determinante da inovação na História, só recentemente o conceito foi formalizado e estudado de forma sistematizada. Os primeiros estudos sobre o fenómeno surgem na década de 60 do século passado. Se num primeiro momento esta investigação se encontrava quase exclusivamente focada nas questões de ordem científica, nos últimos anos tem-se assistido a um maior enfoque nas questões que dizem respeito ao papel da inovação na economia e seu impacto social. A natureza pluridisciplinar destes estudos torna evidente o carácter transversal da inovação.
Para melhor deslindar a natureza da inovação, importa perceber a sua relação com o conceito de invenção. Segundo Jan Fagerberg, no seu artigo Innovation – A Guide to the Literature “Invenção é a primeira ocorrência de uma ideia para um produto ou processo, enquanto a inovação diz respeito à primeira tentativa de a colocar em prática”. Deste modo, invenção e inovação correspondem a momentos distintos do processo de criação. Tal como também aponta Fagerberg, se a invenção poderá ocorrer em qualquer lado, o mais dos casos nas universidades, a inovação encontra-se mais ligada às empresas e acontece pelo jogo de combinação de diferentes recursos, conhecimentos, capacidades e competências. Assim, mais do que um acto isolado, a inovação resulta de um processo contínuo. Deste modo, o que muitas vezes tomamos como “uma” inovação é fruto da interligação de uma série de inovações.
Joseph Schumpeter, figura maior dos estudos sobre inovação e o seu impacto na economia, define-a simplesmente como novas combinações dos recursos existentes. Atribui a esta actividade uma função empreendedora, dando assim destaque ao papel do inovador enquanto empreendedor na condução deste processo, nomeadamente no que diz respeito à luta que cada um trava contra a inércia e resistência à mudança.
Schumpeter distingue cinco tipos de inovações: novos produtos, novos métodos de produção, novas fontes de fornecimento, exploração de novos mercados, novas formas de organização empresarial. Outra distinção importante que Schumpeter opera diz respeito ao carácter da inovação. A inovação pode assumir uma natureza mais radical ou disruptiva, como por exemplo, com a introdução de um produto totalmente novo, estando assim mais próxima da invenção. Por outro lado, a inovação pode ser de âmbito mais marginal ou adquirir um carácter incremental, como acontece no caso de optimização de metodologias de produção ou organização.
Em qualquer dos casos, a inovação acontece de modo não linear. Diz respeito a um fenómeno complexo, em que não é líquido que as etapas de investigação, desenvolvimento, produção e marketing, tradicionalmente assumidas como as fases do processo de inovação, aconteçam de modo sequencial e estanque. É um processo cada vez mais aberto, em que é dada maior importância à experiência dos clientes e utilizadores e não apenas ao saber dos cientistas e especialistas. Não é assim um fenómeno exclusivo dos laboratórios, mas joga-se tendencialmente mais no mercado e junto das pessoas.
A inovação tem assumido um papel fundamental nos processos de crescimento económico e concentrado nalgumas indústrias e sectores de actividade. É cada vez mais utilizado como indicador e razão explicativa para diferenças de desenvolvimento entre empresas, países ou regiões. Tal explica o recente enfoque das políticas económicas na promoção da inovação, pois ela é uma trave mestra do crescimento e desempenha um papel crucial na resposta e superação de momentos de crise. Importa agora explorar o carácter inclusivo que esse crescimento económico deve assumir, bem como compreender o papel da inovação não apenas no âmbito económico mas também social.
A emergência da inovação social
O entendimento que se tem do conceito de inovação sempre teve um excessivo enfoque nas questões científicas e tecnológicas. É inegável o impacto da valorização da inovação nestes campos, facto que se reflectiu no desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e serviços que muito contribuíram para o desenvolvimento da economia. Contudo, a inovação também aconteceu e acontece no domínio social. Muito do que hoje tomamos como indispensável para o funcionamento das sociedades foram, na altura da sua criação, tidas como inoportunas ou impossíveis de realizar. Por vezes, até mesmo desprezadas ou ridicularizadas. Refira-se, por exemplo, a criação dos sistemas nacionais de saúde ou da rede pré-escolar. O que antes era tomado como utópico é hoje um dado adquirido, devido à sua importância na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Estes dois exemplos demonstram que a inovação social sempre aconteceu, mesmo quando ainda não era apelidada enquanto tal. A sua recente conceptualização veio não só reconhecer a importância vital da inovação nas questões sociais, como também atestar a necessidade de incorporação deste conceito na resolução das várias vertentes que as questões sociais podem assumir.
Mas o que é, afinal, inovação social? Geoff Mulgan, no seu texto Social Innovation: What it is, Why it matters and how it can be accelarated, define-a como “actividades e serviços inovadores motivados pelo objectivo de responder a uma necessidade social, desenvolvidas e difundidas principalmente por organizações cujas principais propósitos são sociais”. Numa palavra, hoje, como desde sempre, a inovação social acontece quando se encontra uma nova e melhor resposta para uma determinada necessidade social não satisfeita.
Este conceito – Inovação Social - assume, no contexto actual, uma maior importância e pertinência, ao assistirmos à falência dos mecanismos tradicionais de resposta às questões do mundo de hoje, quer em termos económicos como sociais, sendo urgente encontrar novas e melhores respostas que consigam fazer frente aos desafios das sociedades contemporâneas: O aumento da esperança de vida e o consequente progressivo envelhecimento das sociedades obrigam a encontrar novos modelos de trabalho e de segurança social, bem como diferentes modelos de planeamento arquitectónico e urbanístico; A crescente diversidade presente nos países faz com que seja necessário encontrar novas soluções para o ordenamento das cidades que promovam uma efectiva integração. As alterações climáticas exigem que se procure modelos mais sustentados de desenvolvimento.
A inovação demonstra a capacidade do homem de ultrapassar barreiras e superar limites: é esse processo de recombinação e possibilidade de aproveitamento de recursos aplicados à resolução de problemas. A globalização fez com que esse processo pudesse ser realizado à escala mundial. O futuro da inovação passa por promover espaços de colaboração e aprendizagem mútua, envolvendo países em diferentes momentos de desenvolvimento, e fomentar modelos mais equitativos de crescimento, colocando-o ao serviço da sustentabilidade e justiça entre gerações.