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NÁDIA EM TONS ROSA E VERDE FRESCO

Nádia Reis, sorriso largo, rabo-de-cavalo escuro, no espaço do tamanho de uma mesa de jantar, em tons rosa e verde fresco. É o seu Gel-me-Quer, marca registada, nada de “nails” no nome do seu estúdio de unhas de gel, assente na Estrada Nacional da Baixa da Banheira, no concelho da Moita. Sete mil euros. Foi o montante do empréstimo recebido em Outubro de 2011. De desempregada, Nádia passou a empresária e desafiou as estatísticas de um concelho onde o número de pessoas inscritas nos centros de emprego aumentou quase 20% num ano. Hoje, Nádia, a empresária, lucra mais de mil euros por mês. “Está a ver? Mostra os cálculos do dia-a-dia, feitos no Excel do seu pequeno portátil”.


Vinte e oito anos, duas filhas, Nádia, 12º ano, vendeu minis e cafés numa colectividade, atendeu clientes em lojas de roupa, foi recepcionista numa empresa de reboques, onde imprimiu o seu jeito feminino “num mundo de meia bola e força”, vendeu bolos na Ericeira. Trabalhou numa imobiliária. Ficou desempregada. Pelo meio, consertava e limava as mãos de amigas. Elas gostavam. Nádia também. Agarrou em papel e caneta e criou o esboço de uma empresa para apresentar no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), ao abrigo dos apoios à criação do próprio emprego por beneficiários de prestações de desemprego.  


Com a candidatura, vieram os balanços e balancetes, a prospecção de mercado, as intenções de indeferimento. A gíria do mundo da gestão e da contabilidade era uma língua estranha para Nádia. Leu legislação, lambeu papel, como diz, fez e refez o projecto. Valeram-lhe as dicas do Gabinete de Emprego e Apoio ao Empreendedorismo do Vale da Amoreira, os conhecimentos dos amigos e, sobretudo, a sua persistência. Os dias passavam e o financiamento do projecto continuava por aprovar. Um familiar olhou para o esboço de Nádia, acreditou nele, emprestou-lhe o dinheiro. Com os sete mil euros, esta empreendedora pagou trespasse, comprou material, mobiliário e latas de tinta. Abriu o seu Gel-me-Quer. Foi em Outubro de 2011. Quatro meses depois, as receitas já cobriam o valor investido. O projecto foi aprovado no IEFP em Junho de 2012, oito meses após a abertura do estúdio.


Hoje, Nádia faz mapas contabilísticos, “rankings” com as melhores clientes, brindes com chapéus-de-chuva e enroladores de pestanas. Tem 80 clientes fixas, e de todas sabe o nome. Lá está o “ranking” no seu Exel. Uma média de quatro clientes por dia. Uma hora e meia para cada trabalho. Dezoito euros por cada um. Sorriso largo num mundo que parece a preto e branco, mas que Nádia persiste, e consegue, pintar de rosa e verde fresco.

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