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SELECÇÕES SEM PAÍS

O desporto pode ser um veículo importante na afirmação de uma identidade. O Sudão do Sul é um exemplo recente: disputou uma partida de futebol com o Quénia, no dia seguinte a ser formalmente reconhecido como país independente do Sudão.



Mas nem todos podem usufruir desse privilégio. Há um grupo de territórios que, por não terem reconhecimento por parte da FIFA (o organismo que tutela o futebol mundial), não têm lugar nos principais palcos da modalidade. Isto apesar de, noutros âmbitos da sociedade, lhes ser atribuído algum grau de autonomia.



Os casos do País Basco e da Catalunha são paradigmáticos: há uma declarada luta política pela autodeterminação, mas que não passa pelo desporto – para não ferir susceptibilidades. Impedidos de disputar partidas internacionais, por não terem o reconhecimento da FIFA, optaram por não aderir ou apoiar nenhum dos movimentos Não-FIFA, que reúnem territórios e regiões não reconhecidas. Uma estratégia que tem por objectivo não hipotecar um eventual reconhecimento futuro pelo organismo que tutela o futebol mundial. Situação semelhante é vivida pelo Mónaco, Kosovo ou Gibraltar, que no entanto têm vindo a negociar individualmente com a FIFA e a UEFA, federação responsável pelo futebol europeu.

A FIFA alberga um total de 209 associações, ao passo que as Nações Unidas reconhecem apenas 193 países-membros. O Comité Olímpico Internacional, por seu lado, reúne 204 comités nacionais. Onde está a transparência desta contabilidade e quais são os critérios aplicados?



“Qualquer associação responsável pela organização e supervisão do futebol num país pode aderir à FIFA. Neste contexto, a expressão ‘país’ deve referir-se a um estado independente reconhecido pela comunidade internacional”, pode ler-se no ponto 1 do artigo 10.º dos estatutos da FIFA. Mas este princípio não deve ser interpretado de maneira demasiado estrita, porque logo a seguir é introduzida uma excepção: “Cada uma das quatro associações britânicas [Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte] é reconhecida como membro distinto da FIFA”, lê-se no ponto 5 do mesmo artigo.



Para algumas regiões e territórios, a FIFA é uma porta fechada. O que não deixa de ser irónico, num organismo que defende o futebol para potenciar o desenvolvimento – nomeadamente através dos programas “Football for Hope” e “Goal”.

Aqueles que ficam de fora organizam-se em movimentos dispersos. O VIVA World Cup é o principal torneio para territórios não reconhecidos, organizado pela NF Board (Nova Federação ou Não-FIFA). A mais recente edição realizou-se no Curdistão Iraquiano e reuniu, para além da equipa anfitriã, as selecções do Sara Ocidental, Occitânia, Zanzibar, Récia, Tamil Eelam, República Turca de Chipre do Norte, Darfur e Provença.

Equipas diferentes, com motivações diversas, mas representando grupos unidos pela história, cultura, língua, política. E pelo direito à competição desportiva, sob uma bandeira a que chamar sua.

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