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UMA PRAÇA DA LIBERTAÇÃO PERMANENTE

O balanço final das revoltas árabes só vai poder ser feito quando já tiverem passado muitos anos desde que o primeiro ditador árabe caiu sob a pressão dos protestos populares, a 14 de Janeiro de 2011, na Tunísia. Mas bastou a prova de que manifestações pacíficas e pessoas determinadas podiam derrubar regimes para fazer nascer uma nova consciência do poder do protesto. Um dos símbolos dessa consciência é a praça Tahrir do Cairo, ocupada pelos egípcios até Hosni Mubarak deixar o poder, a 11 de Fevereiro de 2011. Depois do Cairo, pessoas em muitos países árabes chamaram Tahrir às suas praças. O mesmo aconteceu em Espanha, onde o movimento Indignados nasceu em Maio de 2011 e influenciou gente de Washington a Telavive. Pessoas que nunca se tinham manifestado acreditaram que podiam provocar mudanças. Tahrir, que significa Libertação, passou a ser sinónimo de revolta pacífica contra as injustiças, de espaço de solidariedade e de debate.


No Cairo, Mona Shahien quis garantir que esse espírito se tornava permanente e criou uma organização não-governamental dedicada a “educar para uma participação activa na sociedade”. A sua ideia foi acolhida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, que lhe cedeu um espaço, o Instituto Goethe da capital do Egipto, a dois minutos da Praça Tahrir. A jovem chamou-lhe Tahrir Lounge e o projecto está a expandir-se ao resto do país. Em colaboração com outras associações e movimentos, organiza conferências e workshops sobre liberdade de imprensa, redes sociais, partidos e ideologias políticas, tolerância e minorias, direitos humanos e direitos laborais, igualdade entre géneros, corrupção, nacionalizações. Durante a campanha para as legislativas do final de 2011, ali estiveram políticos seculares e islamistas a responder às perguntas dos egípcios sobre os seus programas. “Participa na mudança”, é o slogan do Lounge.


Tal como a Tahrir original atraiu pessoas de todas as idades e meios sociais e económicos, politizadas ou analfabetas, a ideia é chamar pessoas que poderiam sentir-se intimidadas perante um espaço demasiado formal. Ali tudo é política, mas apresentada de forma apelativa. Há um pátio com almofadas espalhadas pelo chão, muitas exposições de fotografia, ciclos de cinema, concertos. “Estamos a tentar construir cidadania, ninguém pode saber o que está errado se não for orientado”, afirma Mona Shahien. Para um país em transição, é fundamental “aprender a dialogar, a fazer concessões”. Essa é, diz “a essência do sistema político”, da democracia.

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