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A LIBERDADE DE EXPRESSÃO QUE “SÓ EXISTE NOS PAPÉIS”

Quando o regime tarda em mudar e a oposição não consegue dar resposta às expectativas da população, sobram as ruas. MCK, também conhecido por Kapa, outra alcunha do rapper de 30 anos, é um dos que tem agitado as ruas angolanas, dando banda sonora à intervenção cívica.


A tomada das ruas por manifestantes pouco ou nada ligados a partidos políticos é um fenómeno relativamente recente em Angola, com altos e baixos de intensidade, num desafio constante à qualidade da democracia.


Muitos desses manifestantes estão ligados à música de intervenção, que nasce nos musseques de um país onde a música tem mais peso do que a oposição. É assim em África, onde a música é uma ferramenta de luta e um despertador de consciências.


MCK editou o primeiro disco em 2002 e, no ano seguinte, Arsénio Sebastião “Cherokee” foi assassinado quando entoava uma música sua.


A venda do segundo disco, em 2006, foi proibida por orientações superiores e é por isso que o terceiro, recentemente editado, se chama “Proibido ouvir isto”. As rádios públicas não o passam, mas vendeu dez mil exemplares, em quatro horas, nas ruas de Luanda e de outras cidades. As ruas de novo, o lugar mais democrático de todos.


A liberdade de expressão em Angola, país onde o ritmo do boom económico não tem sido acompanhado por um semelhante desenvolvimento social, “só existe nos papéis”. É esta incongruência, num país que “tem tudo para dar certo agora”, que, na opinião de MCK, mandou os jovens para as ruas.


Ainda falta qualidade ao desenvolvimento, porque a democracia ainda anda de gatas. “Precisamos de alternância governativa urgente. O parlamento não tem discussão nem oposição. Basta o MPLA mandar 30 deputados levantar a mão e aprovam quaisquer leis”, critica MCK.


As manifestações cívicas são, por estes dias, a maior ferramenta de pressão política e, apesar das “sementes de medo” que o regime angolano vai plantando, prometem continuar a acontecer enquanto houver uma grande maioria de pessoas muito pobres e uma minoria cada vez mais reduzida de pessoas muito ricas.


Quando foi auscultado pela chanceler alemã, Angela Merkel, quando esta visitou Angola, em Julho de 2011, MCK disse-lhe que as pessoas são os recursos mais importantes do país, mais do que petróleo ou diamantes.


MCK tinha tudo para não ter estudado. Cresceu no musseque, num bairro periférico, sem escola, sem hospitais. Mas fugiu à regra, mostrando que o desenvolvimento também está nas mãos de cada um. Formou-se em Filosofia e construiu, com sacrifício, “uma personalidade integral e vertical, no meio da confusão”.


Sempre sem sair de Angola, a sua “parceira”. Que elogia e que critica. “Não porque a odeio, mas porque a amo muito.”

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