UM MURO DE MUDANÇA
Para que serve um muro? Para separar, para delimitar um espaço, para dividir. Bianca e Alexandre provaram que também serve para aproximar duas gerações com a sua proposta para o Orçamento Participativo Escolar da cidade de Lisboa.
Bianca e Alexandre ainda não podem votar nem conduzir. Mas este ano, a sua turma do 9.º ano do curso técnico de Costura e Modelagem na Escola Secundária Marquês de Pombal pode decidir onde seriam aplicados 10 mil euros através do Orçamento Participativo Escolar da cidade de Lisboa. O tempo para elaborar os projectos era pouco - 2 semanas - e a acção limitada – tinham de se manter dentro da verba atribuída. Mas não deixaram de participar.
Noutras escolas onde o OP Escolar também decorreu, os alunos dos 8.º e 9.º anos ultrapassaram o problema de não poderem aplicar o dinheiro na própria escola (as escolas secundárias estão sob tutela do Ministério da Educação), embelezando o espaço exterior. Aqui foi diferente. Bianca e Alexandre, quer pela idade, um pouco mais avançada que a dos colegas das outras escolas, quer pelas condições de vida mais difíceis, olharam para fora.
Um pouco acima da escola que hoje frequentam, está a sua antiga escola primária, a Escola Básica do Casalinho da Ajuda. Bianca, que vive ali perto, há muito lamentava os muros graffitados. “As crianças até devem ter medo de ir para a escola com aquilo tudo escrito e rabiscado”, acrescenta a jovem.
Teve então a ideia de através da verba do OP Escolar reparar o muro e pintá-lo com desenhos mais adequados às crianças. Tirou fotografias a todas as paredes e deu-as à professora Madalena que lhe preparou a maquete para o desenho. O acompanhamento de Ana Leal, funcionária da Câmara assegurou que a obra não ultrapassava o orçamento e o projecto foi a votação pela turma.
A proposta de Alexandre, a recuperação de outra parte da mesma escola, excedia o orçamento, mas isso não fez com que deixasse de apoiar o projecto da colega. A ideia base era a mesma. “Temos de pensar nos mais novos, porque os mais velhos já se safam sozinhos”, explicou Alexandre.
O projecto de Bianca ganhou por unanimidade e o muro vai ser reabilitado, mas não por qualquer empresa de construção civil ou serviço da Câmara. “Nós, os funcionários da escola, os pais das crianças, as crianças, vamos todos pintar o muro, queremos envolver toda a comunidade”, revela Bianca. A exigência já constava do projecto original e também esta vai concretizar-se.