USHAHIDI: O TESTEMUNHO COMO INOVAÇÃO SOCIAL
“Não há lugar como 127.0.01”. O tapete de entrada presta-nos as boas-vindas no seu jeito tecnológico. Três ou quatro passos adiante, o sopro do ar condicionado neste 4.º andar na Bishop Road, em Nairobi, eriça a pele e transporta-nos epidermicamente para um microclima bem distante da aridez das ruas da capital queniana.
Sofás e puffs, mesas de trabalho povoadas por computadores portáteis ligados à rede sem fios, matraquilhos e uma estante de livros: “Futures of Technology in Africa”, “Design to Thrive”, “Web Standards Solutions”.
E como não reparar neste que dizem ser “o mais bem-sucedido negócio na cidade”? Claro, nada como uma chávena de chá ou de café para catalisar a concentração face a colunas infindáveis de código binário.
Este é o iHub, um lugar-rede, misto de espaço de trabalho e comunidade aberta para tecnólogos, programadores, investidores, designers. É aqui, nesta manhã de sábado, que encontramos Daudi Were, director de projectos da Ushahidi, a plataforma de fonte aberta (open source) especializada em colectar informação dispersa e dar-lhe a forma de um mapa interactivo.
Daudi recorda como tudo começou, em Dezembro de 2007, durante a violência pós-eleitoral no Quénia. Ele assume que o mais importante na inovação não é a tecnologia, mas aquilo que socialmente se pode alcançar através dela.
“Costumamos dizer que a tecnologia é apenas 10 por cento da solução. As interacções, as parcerias, a criação de conteúdos, saber que história contar. Tudo isso joga um papel importante. As nossas redes estão para além da tecnologia. Tudo se resume a estimular a participação cívica directa, a democratização dos fluxos de informação”.
A seu modo, Ushahidi (testemunho em Suaíli) procura ser uma forma de reinventar modelos sociais estagnados e criar novas organizações como forma de resposta a necessidades sociais.
“Transparência, responsabilidade, ligar os cidadãos aos decisores políticos e vice-versa. E não apenas em momentos de crise. Se os cidadãos souberem quem é directamente responsável por esta ou aquela estrada em Nairobi e quanto dinheiro foi ali investido, poderão tomar decisões informadas. Podemos iniciar esse processo com base em informações oficiais. Depois iniciamos um processo de filtragem pela inteligência colectiva”. Têm-no feito por todo o globo: da Somália ao Haiti, de Gaza ao Golfo do México.