YOUTUBE: A ARMA DA PRIMAVERA ÁRABE
Sou Suhair Atassi, 38 anos, muçulmana sunita. Pertenço a uma das famílias políticas e religiosas mais importantes de Homs, “capital da revolução síria”. O meu pai, Jamal, dos primeiros militantes do Partido Baas, deixou cair o Presidente Nuredin, seu primo, a favor de Hafez al-Assad, no golpe de 1970, mas afastou-se assim que o novo líder abandonou o ideal pan-arabista.
Em 2000, quando o meu pai morreu, pouco antes de Hafez, este ofereceu-lhe um funeral “quase oficial”, reconhecendo-o como “patriota de convicções”. Eu, pelo contrário, com Bashar al-Assad, fui várias vezes detida e forçada a 8 meses de clandestinidade até ao exílio em França, desde Novembro de 2011.
O meu delito? Fundar o Fórum Jamal Atassi, espaço de debate no Facebook para exigir reformas. Os vídeos que partilhávamos denunciavam a opressão. O regime privou-me desta existência virtual. Esperávamos uma “Primavera de Damasco” depois de o filho de Hafez chegar ao poder, mas enfrentámos um reino de silêncio, com uma dupla aterradora. Por um lado, a fúria contida resultante da deterioração das condições de vida, corrupção e repressão. Por outro lado, o medo: das perseguições, dos interrogatórios, das pressões sobre familiares, do cárcere sob acusações falsas.
Em Abril de 2011, em Homs, fui testemunha de como foi possível quebrar a barreira do medo. A esperança tornou a despontar. As pessoas compreenderam que podem, por si próprias, reaver a sua humanidade.
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Sou Ahed al-Hendi, 27 anos, cristão nascido em Damasco, onde estudei Gestão e ajudei a criar, em 2006, um movimento juvenil laico e democrático. Sobrevivemos alguns meses até eu ser preso num café de Internet, usado para apresentar ao mundo – sobretudo com imagens no YouTube – provas dos crimes da ditadura.
Durante 40 dias na cadeia, a pior tortura foi psicológica. Horrível, a experiência de estar isolado numa minúscula cela, sem acesso a advogado. Desejei muitas vezes morrer. Esperei três meses até poder fugir da Síria: para a Jordânia, Egipto, Líbano e, finalmente, os EUA. Agora, em Nova Iorque, coordeno o programa árabe da CyberDissidents.org., que amplifica as vozes dos bloggers pró-democracia no Médio Oriente. Suhair Atassi é uma dissidente corajosa que influenciou muitos jovens activistas. Foi a primeira a organizar manifestações e a insurgir-se publicamente contra Bashar. O Ocidente devia apoiá-la como o futuro da região.